Confesso que estou aguçado para ver o resultado sobre a utilização do "Vale-Cultura", instituído pelo governo federal aos trabalhadores em geral.
A ministra da Cultura, Marta Suplicy, deu algumas dicas de como esse novo instrumento sócio-cultural poderá ser utilizado. "Pode até ser usado para comprar revista porcaria da direita", disse Marta, ao se referir à publicação que faz campanha contumaz ao seu partido, o PT.
Nesse momento não saberia dizer se o novo benefício será mesmo um benefício para alimentar as ações culturais tupiniquins. Até porque, infelizmente, nossa indústria cultural preferencia o mau gosto. Enchem-nos de muitas porcarias, principalmente na música. Nossas rádios e TVs emporcalham ouvidos incautos em troca de jabás e interesses econômicos das gravadoras.
Quando as FMs surgiram no final dos anos 70, era raro ouvir algo que não fosse bom em termos estéticos. Lembro-me que morava e estudava em Londrina (PR). O som naquela época passava por Chico Buarque, Milton Nascimento, Cor do Som, Pepeu Gomes, Elba Ramalho, Gonzaguinha, Gil, Caetano, João Bosco, Elis, entre outras feras da MPB. Não é saudosismo, não. Obras primas desses artistas são hoje desconhecidas do grande público porque as rádios simplesmente as ignoram.
Tenho exemplo dentro da minha casa, com o meu filho de 12 anos. Mesmo influenciado negativamente com o que rola hoje nas rádios e TVs, ele tem gosto musical diferenciado das crianças de sua idade, porque é estimulado em casa a ouvir o que é bom.
De nada adiantará "Vale-Cultura" se não valorizar quem, de fato, faz cultura.
Na Universidade, um colega de classe, ávido por leitura, reclamava com frequência dos preços dos livros. Toda vez que falava nesse assunto, respondia a ele que os livros só se tornarão mais baratos na medida que aumentar a demanda de leitores.
Vejo agora, mais do que nunca, que a frase de Raul Seixas - "falta cultura pra cuspir na estrutura" - é uma triste realidade.
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