O desenvolvimento da campanha presidencial é eloquente sobre a real natureza da candidatura do ex-governador paulista José Serra à Presidência. Ele gosta de se apresentar como um homem de esquerda, democrata, nacionalista e desenvolvimentista. E há quem acredite. Mas, ao respaldar as calúnias proferidas pelo seu vice, Índio da Costa, sobre as relações do Partido dos Trabalhadores (PT) com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o tucano revela e assume a sua condição de candidato da velha direita brasileira, raivosa e antidemocrática.
Índio acusou o PT de ligações com as Farc e o narcotráfico. Uma mentira que já lhe rendeu dois processos por calúnia e difamação e uma representação do partido no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) requerendo direito de resposta no sítio do PSDB. Na segunda-feira (19), Serra se pronunciou sobre o tema. Para surpresa de alguns, respaldou o vice que lhe foi imposto pelos demos afirmando que “todo o mundo sabe que o PT é ligado às Farc”, embora ressalvando que isto não significa necessariamente vínculos com o narcotráfico.
Acusações e manobras do gênero não constituem uma novidade da atual campanha. Lembram a tentativa torpe de associar o PT ao sequestro do empresário Abílio Diniz, na véspera do pleito presidencial de 1989, o terrorismo midiático de 2002 para incutir medo na população contra Lula, que então derrotou Serra, ou mesmo a lenda macabra de que comunistas comem criancinhas, difundida amplamente durante o regime militar.
Embora tenham provocado certo desconforto entre alguns membros da campanha demo-tucana, as declarações do vice não ocorreram nem foram divulgadas por acaso, descuido ou incompetência. Faz parte de uma estratégia deliberada de combate político, cujo objetivo é o mesmo de 1989 ou 2002 contra Lula: aterrorizar o eleitorado.
Certamente é uma conduta motivada mais pelo desespero de quem já está cheirando a derrota do que pela inteligência. De todo modo, serve para revelar o caráter reacionário do candidato tucano José Serra e seu colega de chapa, homem de ficha duvidosa e deputado federal por um partido, o DEM, desmoralizado pela corrupção deslavada no DF.
A demonização das Farc também serve aos propósitos retrógrados dos Estados Unidos e do governo direitista da Colômbia, que não desejam uma solução pacífica e democrática para os conflitos que afligem o país e apostam todas as fichas na guerra. Neste mesmo sentido, outras posições assumidas pelo ex-governador paulista são igualmente esclarecedoras.
Serra já caluniou o governo do índio Evo Morales na Bolívia, insinuando que está associado ao narcotráfico, confessou que pretende acabar com o Mercosul e criticou a posição corajosa e soberana da diplomacia brasileira em relação ao Irã. Tudo isto traduz uma política de aproximação e submissão às grandes potências capitalistas lideradas pelos EUA e retrocesso à diplomacia dos pés descalços praticada nos governos FHC.
O caráter direitista do candidato demo-tucano transparece ainda nas relações com os movimentos sociais, em especial com o sindicalismo. Ele já se mostrou um inimigo da classe trabalhadora, perseguiu professores e policiais civis enquanto governava São Paulo e fez jus a um manifesto das centrais sindicais em que foi desmascarado como impostor e mentiroso. Que ninguém se iluda: Serra é o candidato da velha direita, golpista e raivosa.
(*)Editorial publicado no site 'Portal Vermelho
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