Atônita, a sociedade busca agora saber o que motivou o atirador de Realengo, no Rio de Janeiro, a matar crianças indefesas, principalmente do sexo feminino.
Uma carta foi deixada e, nela, o atirador pede para que não seja tocado por "mãos impuras", deixando transparecer sua aversão às mulheres adúlteras.
“Nenhum fornicador ou adúltero poderá ter contato direto comigo, nem nada que seja impuro poderá tocar o meu sangue”, escreveu ele na carta.
Especialistas no assunto afirmam que algo ficou “mal resolvido” no passado.
Segundo o psicólogo Antonio Serafim, coordenador do Núcleo Forense do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo, ao insistir na questão da impureza, o rapaz tentou demonstrar que se incomodava com alguma “sujeira” do mundo, que mereceria ser combatida, vencida.
“Pode ser uma pessoa que foi desrespeitada, que sofreu indiferença, que teve problemas com uma ‘sujeira’ ao redor dele”, afirmou.
Na análise do especialista, o atirador provavelmente agiu tentando penalizar o mundo que o agrediu.
“A morte é a grande mensagem dele. Estou fazendo (matando), pois vocês me obrigaram. Ele pode ter escolhido crianças em uma tentativa de salvá-las dessa sujeira. Ele não estava matando, mas as salvando. É uma visão muito presente em discursos de assassinos desse tipo”, afirmou, em tese.
Para Sirio Possenti, professor do departamento de Linguística do Instituo de Estudos da Linguagem da Universidade de Campinas (Unicamp), a carta seria uma peça sem sentido se não soubéssemos o desfecho do caso. Ao virar uma espécie de despedida de um assassino suicida, o texto ganha outras dimensões.
“A carta só adquire sentido quando ele mata e morre”, afirma.
Segundo ele, não é possível ignorar que o atirador tinha alguma questão não resolvida com a “sujeira”, seja ela moral (promiscuidade das mulheres, por exemplo) ou física (algum abuso que sofreu, por exemplo).
Na carta, existe ainda um cuidado desmedido com a figura feminina. Há uma especial citação à figura materna.
“Ele faz questão de ser enterrado ao lado da mãe. Por que ele não fala de irmão, pai, nada? Em tese, pode ser que ele não aceitasse a morte de mãe”, ponderou.
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